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Renata Rizzo

" Há maior significado profundo nos Contos de Fada que me contaram na infancia, do que na verdade que a vida ensina." -  Schiller

O encantamento com Mitos e Contos de Fada é milenar!

Devido à inclinação fortemente racionalista de nosso sistema educacional, tendemos a considerar os mitos antigos como bobagens superticiosas e os contos de fada como histórias para ninar crianças. Na realidade porém, eles representam uma psicologia altamente sofisticada, expressa numa linguagem poética de imagens e narrativas dramáticas.Os contos de fada jamais serão sobrepujados pois falam diretamente a mente inconsciente e a humanidade sempre sentirá o fascínio e a necessidade por essas histórias.

Autores reescrevem contos milenares com frequência, evidentemente filtrando-os através de suas mentes conscientes e subconscientes, com a visão de mundo de sua época. No entanto muitos descaracterizam-nos, conferindo peculiaridades diferentes aos seus personagens.

Um grande equívoco, é ver constantemente nos filmes e animações de Mitos Gregos, o Deus Hades (Plutão) como vilão, uma vez que na época da Grécia antiga, não existia essa conotação de "inferno" dos católicos. Hades, um Deus avernal reinava no mundo dos mortos tanto no Tartaro, onde castigos eram aplicados aos que careceram de ética em suas relações durante a vida, quanto nos Campos Elísios, onde até mesmo heróis encontravam o repouso merecido após a morte.

Talvez seja uma atitude egóica refazer o que é perfeito. No entanto, evidentemente, para levar histórias mitoógicas ao público infanto-juvenil, é mister que se faça determinadas adaptações. São histórias de uma cultura que apesar de ter dado origem à nossa, está muito distante em questões, por exemplo éticas, para dizer o mínimo, e é evidente que precisamos utilizar de alguma licença poética para continuar contando-as ao nosso público infanto-juvenil.

O estupro era algo permitido na cultura grega, inclusive o de rapazes de até 14 anos, quando ganhavam sua maioridade perante a sociedade, e então podiam contar com respeito. Benefício este do qual as mulheres não tinham o direito e daí, histórias como as de Dafne que implorou à Gaia que a transformasse em árvore para escapar aos assédios desesperados do Deus Apolo.

Como este fato era visto e sentido pela sociedade, não temos como avaliar. O pânico da perda da virgindade é algo que fica claro nas histórias, mas se outros sentimentos negativos eram vivenciados, não fica claro. Existe uma passagem em que Hermes (Mercúrio) está guiando uma mulher ao mundo dos mortos em seus braços. Ele é tomado pelo desejo e a possui a caminho do Hades. A única revelação da história com relação a sentimentos, é que "o Deus teve seu desejo saciado, apesar de ter sido um prazer solitário". É bem verdade que, em se tratando de histórias tão antigas, passaram por muitas traduções, e quem sabe a que tipo de censuras a Idade das Trevas as submeteu. De qualquer forma, na nossa cultura isso é algo abominável e a mitologia grega está recheada de estupros, o que não convém nem um pouco ao séc. XXI, e sua constante evolução no respeito à mulher.

Como utilizar a criatividade para não amesquinhar as histórias mais belas criadas pela humanidade, sem tirar-lhes seus significados psicológicos mais profundos, mas ao mesmo tempo driblando costumes bárbaros tão comum de uma época? 

Dediquei quinze anos de minha vida a essas pesquisas e à uma maneira toda especial de contar essas histórias, que sem mencionar qualquer alusão a estupro, e sem ser direta em passagens eróticas,  deixando espaço nas entrelinhas para dar asas a imaginação dos adolescentes, com muito romantismo, procurei preservar toda a beleza e significado dos mitos.

Aos puritanos, que exilam toda história com qualquer conteúdo "picante", devo argumentar que estamos diante de uma geração que convive com o erotismo diariamente nas televisões, e muitas vezes em sua própria vida. Como professora e arteterapeuta,  fui confidente e conselheira de adolescentes que me contaram histórias de vida, de deixar o mais desavergonhado frequentador de orgias de cabelo em pé.Outras tantas que estariam a altura de Edgar Allan Poe em seus livros de terror, ou de um repórter comentarista de guerra. Experiências, estas, que nenhum jovem teria maturidade para vivenciar e que naturalmente deixam profundas cicatrizes em suas mentes inconscientes.

Este assunto é abordado aqui, para curar e encantar com os contos; Acrecentar Conhecimento através das Interpretações psicológicas e compartilhar uma experiência que foi desenvolvida a partir de sangue suor e lágrimas, na intenção de levar muitos educadores, professores, e arteterapeutas ao que pode vir a ser um "caminho dos tijolos amarelos".

Nas salas de aula do município do RJ, lecionando Artes Cênicas, houve muito sofrimento com a falta de estrutura física, espacial e condições psicologicas humanas.

Então houve o insight e a descoberta de um jeito revolucionário de trabalhar. Foi a solução após longas lapidações: Desistir de FAZER teatro COM os alunos e passar a LEVAR teatro PARA os alunos.

 Não estamos falando de pecinhas infantis da tia Maricota. Estamos falando de Artes Cênicas.

Contar Histórias da Mitologia Grega, origem do teatro ocidental, interpretando TODOS os personagens, Expressar os Sentimentos tão intensos e tão HUMANOS característicos dos Deuses do Olimpo, criando apenas o processo psicológico das personagens e, claro, adaptando o q fosse necessário para um público jovem, acostumado a ver o (a) professor(a) apenas como autoridade, em uma fase que toda autoridade é uma "inimiga" em potencial. O reultado surpreendente: Olhinhos grudados na professora, um interesse acima da média, silêncio e concentração nas salas de aula, professora realizada  e alunos felizes, ANSIANDO pela aula de artes cênicas.

Também foram utilizados os Contos de fada, pois falam diretamente à necessidade infantil de mágica, respondendo inconscientemente às questões eternas: O que é o mundo? Como viver minha vida nele? De onde eu vim? As mensagens dadas pelos contos implicam soluções mas jamais as soletram. 

Classificamos por histórias de fadas aquelas em que existe um perigo, e este, de alguma forma é superado. Estes contos, em particular declaram que uma vida compensadora e boa está ao alcance das pessoas, apesar das adversidades. Mas apenas se elas não se intimidarem com as lutas do destino, sem as quais nunca se adquire verdadeira identidade. E é asiim mesmo que o processo de cura por histórias acontece. Quando por exemplo é contada a hitória do patinho feio para crianças, se alguma delas se sentir diferente por qualquer motivo, se identificará imediatamente com o personagem e pedirá para contar a história de novo por N vezes.

É  que algo dentro delas está "digerindo" certos processos psicológicos que se passam em seu próprio interior, e que ela jamais poderia compreender racional e conscientemente com tão pouca idade.  

 Esse resultado só foi possível devido a uma experiência anterior, onde a monografia da Pós-Graduação em Teatro foi a adaptação das histórias das Mil e Uma Noites para o público infanto-juvenil, e a fundamentação dessas adaptações, que trouxeram preciosos resultados.

Acho que posso me considerar  uma Sherazade em minha própria história de vida, pois em uma escola municipal do Rio de Janeiro,precisei contar histórias para sobreviver. Mas o resultado foi mágico. Uma panacéia curativa. Para mim e para os alunos.

Referindo-me às histórias das Mil e Uma Noites como a história de um Rei curado pelos contos de fada, apliquei este princípio em minha vida, a partir da Formação Clínica em Arteterapia, contando histórias, curando feridas causadas por um sistema falido, e pelos golpe duros da vida em corações tão jovens que se identificavam com os conflitos dos personagens.

Que essa iniciativa possa entreter, encantar a todos  e ajudar muitos profissionais a encontrar um caminho. 

"O que caracteriza um diletante é seu deleite com a natureza sempre preliminar de uma compreensão que jamais se completa."

Zimer H.

Notícias aos visitantes:

Em 'SOBRE NÓS' você ja pode Ler A história que introduz os contos das "Mil e uma noites" e sua interpretação psicológica.

Leia também o Conto: Rayane, 3 dias na vida de uma bailarina. E "Diário de uma Estrela", ambos de minha autoria.